O Brasil, em vista da extensão da sua
área territorial e das condições climáticas
favoráveis, apresenta enorme potencial de produção
de carne em pastagens. É um país tropical, que possui
a maior proporção de sua área situada entre
as linhas do Equador e do trópico de Capricórnio,
região do globo caracterizada por médias anuais de
temperatura elevadas, e portanto, favorável ao cultivo de
gramíneas forrageiras tropicais, do tipo C4, as quais possuem
elevada taxa fotossintética, com produtividade muito superior
às das forrageiras temperadas.
Dessa forma, a pecuária no Brasil pode
consolidar-se como atividade importante para a produção
de alimentos nobres para consumo interno, e também ocupar
espaço crescente no mercado mundial. Neste cenário,
a pecuária tem de garantir o fornecimento contínuo,
ao longo do ano, de produtos de boa qualidade, e ser capaz, ainda,
de se constituir em setor de alta produtividade e competitividade.
A produtividade animal em pastagens é
determinada por dois componentes básicos: desempenho por
animal (ganho de peso vivo) e capacidade de suporte (número
de animais por unidade de área). O desempenho animal é
função da ingestão de matéria seca,
da qualidade da forragem e do potencial genético de animal
utilizado, enquanto a capacidade de suporte é função
do potencial de produção de matéria seca da
forrageira e da eficiência de colheita.
Quanto ao desempenho animal, a média
do ganho de peso vivo, nas águas, está na faixa de
0,6 a 0,8 kg/animal/dia, podendo chegar a até 1,0 kg/animal
por dia.
Embora a média de ganho diário
de peso vivo obtida normalmente nas pastagens tropicais não
alcance a proporcionada pelas forrageiras temperadas, a produtividade
animal pode ser alta, em razão do grande potencial de produção
de matéria seca das espécies tropicais durante o período
das águas.
Capins do gênero Panicum estão
entre os mais importantes para a produção de bovinos
nas regiões de clima tropical e subtropical: a cultivar Colonião
é a mais difundida e de introdução mais antiga
no Brasil. A demanda por sementes dessa cultivar vem diminuindo,
em virtude de lançamentos de novas cultivares mais produtivas.
O uso e o interesse por plantas pertencentes ao gênero Panicum
têm crescido nos últimos anos, provavelmente em virtude
de seu grande potencial de produção de matéria
seca por unidade de área, ampla adaptabilidade, boa qualidade
de forragem e facilidade de estabelecimento.
Dessa forma, já foram lançados
no Brasil por diversas instituições de pesquisa várias
outras cultivares de Panicum maximum, tais como: Tobiatã,
Vencedor, Centenário, Centauro, Aruana, Tanzânia, Mombaça
e Massai.
As cultivares de Panicum maximum Jacq. Disponíveis
comercialmente são basicamente adaptadas a solos profundos,
bem drenados e de boa fertilidade.
O cultivo dessas espécies em solos que
não satisfaçam essas condições e que
não recebem adequado suprimento de nitrogênio tem levado
freqüentemente à má formação, ou,
mais comumente a baixa persistência sob pastejo, com conseqüente
perda da capacidade produtiva e necessidade de medidas corretivas
de recuperação em curto prazo.
A Embrapa Pecuária Sudeste vem avaliando
há vários anos as cultivares Tanzânia e Mombaça,
as quais se tem destacado principalmente pela elevada produção
sob adubação intensiva, boa qualidade de forragem,
boa resistência à cigarrinha das pastagens, bom desempenho
sob pastejo rotacionado e facilidade de propagação
por meio de sementes.
Na Tabela 1, estão apresentadas
informações sobre a produção por animal
e por área obtidas com essas forragens sob pastejo rotacionado
na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP.
Tabela 1 -
Taxa de lotação e ganho de peso vivo (PV) de
bovinos da raça Canchim e cruzados Canchim x Nelore em
pastagens na Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos,
SP, nas águas.
Gramínea/ano
No de
animais
Categoria
Adubação
(kg N/ha)
Ganho de PV
(kg/animal/dia*)
Ganho de PV (kg/ha)
Lotação média
(UA/ha)
Tanzânia/1996a
65
Novilhas
200
0,680
803
5,8
Tanzânia/1997a
58
Garrotes
300
0,820
909
6,4
Tanzânia/1998a
60
Garrotes
300
0,850
935
8,5
Tanzânia/2002a
48**
Bezerros
360
0,620
903
6,8
Mombaça/1997b
75
Novilhas
200
0,590
491
5,3
Mombaça/1998b
40
Vacas com cria
200
-
-
5,0
Mombaça/2002b
70
Garrotes
320
0,720
1000
7,8
* Após jejum de 16 horas.
** Apenas animais “testers”.
a Panicum maximum cv. Tanzânia.
b Panicum maximum cv. Mombaça.
Verifica-se na Tabela 1, a elevada produtividade
de carne, para as duas cultivares, na fase de recria e engorda,
com valores próximos a 1000 kg de PV/ha nas águas,
o que representa mais que dez vezes a média da produção
nacional. Nos meses mais favoráveis para o crescimento das
plantas, a lotação tem atingido valores próximos
de 10,0 unidades animais/ha (1 unidade animal equivale a um bovino
de 450 kg de peso vivo).
Embora em sistema intensivo de uso das pastagens
se consiga maior produção de forragem no período
da seca do que nos sistemas extensivos, em decorrência principalmente
do efeito residual das adubações, a estacionalidade
da produção de forragem, em razão de fatores
climáticos, vai continuar ocorrendo. A produção
de forragem na seca persistirá representando de 10% a 20%
da produção total anual, a menos que seja corrigida,
em parte, com o uso de irrigação. Dessa forma, na
exploração da pastagem, seja extensiva ou intensiva,
haverá sempre um período de produção
abundante de forragem, nas águas, e outro de escassez, na
seca.
A fim de se manter o sistema de produção
de carne intensiva o ano todo, a Embrapa Pecuária Sudeste
também vem realizando estudos com essas duas gramíneas
para uso na forma de silagem. Ainda que os diversos capins, diferentemente
do milho, possam apresentar problemas que interfiram na fermentação,
os mesmos podem ser resolvidos em parte com o uso de aditivos.
A Embrapa Pecuária Sudeste vem utilizando
aditivo na forma de substrato como a polpa cítrica peletizada,
a qual tem proporcionado melhora no padrão de fermentação
e principalmente na redução de perdas por efluentes.
Trabalhos em andamento na Embrapa Pecuária
Sudeste integrando pastejo e silagem de capim durante a seca tem
mostrado bom consumo das silagens de capim Mombaça e capim
Tanzânia por matrizes Nelore. Também trabalho ainda
em andamento tem evidenciado o potencial do capim Mombaça
na forma de silagem como volumoso alternativo em confinamento. Dados
preliminares mostram bom consumo de silagem de capim Mombaça
com 10% de polpa cítrica peletizada por garrotes na faixa
de 16 a 20 meses de idade. A média de ganho de peso vivo
obtido está na faixa 1 a 1,30 kg por animal/dia, utilizando
4 kg de concentrado por animal/dia.
Desta forma os resultados que estão
sendo obtidos na Embrapa Pecuária Sudeste evidenciam o grande
potencial das cultivares Tanzânia e Mombaça para a
produção de carne bovina, seja na forma de pastejo
e/ou forragem conservada na forma de silagem.