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Conceitos distorcidos na pecuária mantém o tradicionalismo da baixa produtividade

Moacyr Corsi (*)

Artigo publicado na Revista JC Maschietto no 07, setembro/2009

Há cerca de duas décadas a pecuária e a silvicultura, representada pelo cultivo de pinus e eucalipto, se assemelhavam em níveis tecnológicos e competiam por áreas marginais quanto à fertilidade do solo e/ou limitações topográficas, pedregosidades, etc. Naquela época a produtividade do eucalipto rondava perto de 30 estéreos/ha/ano, a pecuária de corte com 5@/ha/ano e a leiteira perto de 700 l/ha/ano.

Gradativamente a silvicultura foi se descolando dessa semelhança com a pecuária e se impondo como alternativa econômica e competitiva às melhores áreas exploradas pela pecuária. Esse progresso diferenciado da silvicultura baseou-se no aumento da produtividade que atualmente chega a níveis de 60 a 70 estéreos/ha, enquanto a pecuária mantém-se, tradicionalmente, próximo dos valores de 5@/ha/ano e de 700 l/ha/ano.

Antes, o cultivo do eucalipto baseava-se em plantar, controlar a formiga e as invasoras por 2 a 3 anos, uso de sementes “selecionadas” e manutenção de aceros. Hoje os plantios são feitos com clones específicos para a região e para a utilidade que terá a madeira. O plantio é realizado após correção do solo e da fertilidade, feito com uso de gel para garantir maior sobrevivência das mudas, adubações em cobertura, controle integrado de pragas e máxima redução da competição por invasoras. A exploração econômica dos talhões começa com desbastes aos 3 anos, enquanto que, antigamente, iniciava-se a exploração com cerca de 6 a 7 anos. Foi fantástico o desenvolvimento da silvicultura nessas últimas décadas a ponto de ser considerada como alternativa aos pecuaristas para substituírem pastagens. Ao mesmo tempo a silvicultura apresenta-se como opção de integração entre a pecuária e a silvicultura através de sistemas silvipastoris.

Esse progresso da silvicultura deveu-se, em grande parte, à iniciativa de grupos que exploram a celulose, produção de carvão para indústria metalúrgica devido à restrição de leis ambientais que limitaram o uso de florestas nativas; de empresas que trabalham com tratamento de madeira para uso rural, construção civil; exportadores etc. Esses empresários investiram na silvicultura antevendo o aumento na demanda mundial por celulose e madeira e, ainda, considerando o baixo risco da cultura.

A pecuária e os pecuaristas nessas últimas décadas não mudaram. O Prof. Vidal Pedroso de Faria (ESALQ/USP), em reunião com os alunos estagiários do C.A.P.I.M. (www.projetocapim.com.br), mostrou que, nas fazendas brasileiras a composição do rebanho leiteiro não se alterou nessas últimas décadas e continua com cerca de 40% de vacas no rebanho.

Esse valor permite calcular a produção de leite/ha/dia. Considerando a taxa de lotação é de 1,6 cab./ha, no caso da exploração leiteira, o percentual de vacas (40%), a porcentagem de vacas em lactação ao redor de 68% e cada vaca em lactação produzindo 5 l/vaca/dia, resume-se em uma produção de 2,18 l/ha/dia ou 794 l/ha/ano.*

Por outro lado, o Prof. Vidal demonstrou que a pecuária leiteira tem potencial elevado se for mais tecnificada. Assim, se a taxa de lotação fosse de 8 UA/ha e o rebanho composto por 65% de vacas, 83% de vacas em lactação e 18 l /vaca, a produção seria de 77,7 l/ha/dia ou 28 356 l/ha/ano. A diferença de 35,7 vezes na produtividade da exploração leiteira tecnificada não desperta no pecuarista a visão de oportunidade de negócios dessa atividade, mas a de 2 vezes na silvicultura provocou revolução no setor. Como pode isso ser explicado?

Na pecuária de corte tenho questionado sobre o peso ideal para abate de um boi da raça nelore. Explico, através de resultados reais, que o abate deveria ser determinado pela média de ganho de peso diário (GPD) do animal. Mostro que animais inteiros, pesando 550 kg, prontos para o abate, permanecem no rebanho se o GPD estiver acima da média do lote. O abate de animais em acabamento, com GPD abaixo da média, eleva o GPD médio do rebanho a níveis próximos de 0, 900 kg/cab/dia durante o período de outubro a junho na região de Campinas-SP. Esses animais são machos inteiros recebendo somente pasto e suplementação com sal mineral. Essa gestão técnico-administrativa pode aumentar o retorno da atividade em cerca de R$ 10.500,00 considerando o abate de 250 cabeças.

A única ferramenta que precisamos para fazer essa gestão tecnico-administrativa é o uso de uma balança para bovinos. Porque não fazem?

O Levantamento de Unidades Produtivas Agropecuárias (LUPA), realizado pela Secretaria da Agricultura de São Paulo, apontou que das propriedades do Estado de São Paulo que exploram a bovinocultura (leite, corte e de bubalinos) somente cerca de 2,5% possuem balança.

Como desenvolver uma atividade pecuária se não há como aferir os progressos de técnicas que estão sendo implantadas, como adubação e manejo de pastagens, suplementação, sanidade animal, genética, etc.? Enquanto não for possível quantificar mudanças através de análise crítica de dados a atividade pecuária continuará à mercê de opiniões, de conselhos e palpites de pessoas que mantêm o conservadorismo da baixa produtividade. É difícil mudar o conceito de produtividade quando a maioria dos pecuaristas acredita que deve explorar a atividade com custos menores sem relacionar essa variável com níveis de produtividade.

O LUPA estimou que a área média das propriedades em São Paulo é de 63 ha e 77% dos proprietários ocupavam áreas de até 10 ha; 98% até 200 ha. Com esses números explica-se porque é divulgado freqüentemente que o estado de São Paulo não tem condições de explorar a pecuária. Certamente isso é verdade quando limitamos o pecuarista ao raciocínio de que a renda da propriedade é dependente apenas do baixo custo de produção (R$/unidade de produto) desvinculando-o da variável produtividade (l ou @/ha/ano).

Ao custo médio de R$ 0,45/l de leite e de R$ 53,00/@ e ao de venda de R$ 0,70/l e R$ 80,00/@, as propriedades de 63 ha no Estado de São Paulo poderiam ter lucro bruto, nas atividades de leite e corte, de R$7.090,00/ha/ano (28.356 l/ha/ano ´ R$ 0,25/l) ou R$ 1.215,00/ha/ano (45@/ha/ano ´ R$ 27,00/@), respectivamente.

Esses retornos seriam competitivos com as outras atividades (Tabela 1).

Tabela 1. Comparação econômica entre atividades agrícolas


Atividades

Produtividade
(unid./ha)

Preço de venda
(R$/unid.)

COE(3) 
(R$/ha ou R$/unid.)

Lucro
(R$/ha/ano)

Cana de açúcar (t)

90

37,00

2.600,00

730,00*

Eucalipto (estéreo)

60

30,00

692,00(4)

1108,00*

Milho (scs)

150

19,00*

2.200,00

650,00*

Soja (scs)

55

50,00

1.500,00

750,00*

Leite(1) (l)

800

0,60

0,30

240,00**

Leite(2) (l)

28356

0,70

0,45

7.089,00**

Corte(1) (@)

5

80,00

28,00

260,00**

Corte(2) (@)

45

80,00

53,00

1.215,00**

(1) Sistema convencional; (2) Sistema tecnificado; (3) Custo operacional efetivo; (4) Considerando-se custo de implantação de R$ 4.500,00/ha diluído em 6,5 anos
* (Produtividade x Preço de venda) – COE
** (Preço de venda – COE) x Produtividade

Conclui-se que conceitos distorcidos na exploração da pecuária mantêm o tradicional baixo nível de profissionalismo e de produtividade e impõem pressões (palpites, conselhos, opiniões, etc.) que são aceitas por empresários que não fazem análise crítica de resultados. Sem dúvida, as oportunidades bem sucedidas de negócios na pecuária estão sendo exploradas por empresas rurais que estão comprometidas com emprego de tecnologia, análise crítica dos dados e estabelecendo metas mais arrojadas a cada ano.

Enfim, enquanto uns esperam o vento mudar, outros ajeitam as velas.
(*) Professor Titular do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP.


* (1,6 cab./ha ´ 40% de vacas no rebanho ´ 68% de vacas em lactação ´ 5 l/vaca/dia ´ 365 dias ).


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