Necessidades e oportunidades
Alcides Torres
Gustavo Adolpho Maranhão Aguiar
Artigo publicado na Revista JC Maschietto no 08, setembro/2010
O crescimento da demanda de alimentos é uma oportunidade para o Brasil e o consumo de alimento uma necessidade, que deve ser atendida não só por questões econômicas, mas humanitárias.
De acordo com as projeções para a década de 2010-2019, divulgado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e pela OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o apetite do mundo por alimentos, especialmente carne, deverá ser crescente. Os países em desenvolvimento deverão contribuir com 86% do aumento de consumo esperado.
Segundo o relatório, o consumo mundial de carnes nos países desenvolvidos, que representa hoje 60% do consumo mundial, deverá crescer 2,4% ao ano durante a próxima década.
Esses números escancaram o tamanho da oportunidade que o Brasil terá em atender a esse crescimento e o tamanho da responsabilidade como produtor de alimentos. As projeções são de que até 2019 os fazendeiros brasileiros atendam a 33% das exportações mundiais de carnes.
Com o aumento da demanda, a pecuária nacional deverá se desenvolver com mais velocidade e simultaneamente superar desafios, antigos e novos, impostos em função da ocupação desse espaço no mercado global.
Pressões
A pecuária é uma atividade sempre afrontada. Enfrenta a valorização das terras, a elevação dos custos de produção, a perda de valor de seu produto final, suporta pressões externas de origens diversas e a concorrência com outras atividades agrícolas.
A pressão econômica não é novidade. Na figura 1 estão representados a evolução do preço do boi, os índices de custo de produção e a inflação desde 1994.
Figura 1.
Variação do preço do boi em São Paulo (R$/@), índice de custo da pecuária de alta (AT) e baixa tecnologia (BT), e inflação (IGP-DI). Agosto de 1994 = 100.
Fonte: FGV / Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br
Nos últimos 16 anos os custos de produção da pecuária subiram mais do que a cotação do boi. Mais que isso, na prática, o boi gordo perdeu valor real pois os preços variaram abaixo da inflação, diminuindo as margens da atividade pecuária.
Além dessas pressões econômicas, uma outra onda de pressões atinge a pecuária. O boi brasileiro, criado, produzido em pasto, privilegiando o bem estar e a sanidade animal, vem sendo acusado, dentre outras coisas, de ser a fonte primária de desmatamento, trabalho escravo e de servir para “esquentar dinheiro” seja lá o que isso signifique. Conversa de quem desconhece a realidade da atividade e não está interessado em seu progresso.
Mas qual tem sido a resposta do campo frente a esses obstáculos?
Evolução e perspectivas
Apesar das pressões contrárias, de acordo com estimativas da Scot Consultoria, de 2000 até meados de 2010, a produção de carne bovina aumentou 49,2% e a produção de leite, 50,4%.
Esse aumento de produção foi possível em função do aumento de produtividade. Estimamos, por exemplo, que a taxa de lotação média da bovinocultura do Brasil tenha crescido 18,4%. Um salto de 0,76 U.A. para 0,90 U.A (unidade animal = 450 kg)/hectare.
Em uma análise de longo prazo, a competência da nossa pecuária fica evidente ao produzirmos em taxas muito acima das mundiais e com menor avanço sobre novas áreas.
De acordo com dados da FAO e do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), de 1975 a 2007, a área de pastagem nas fazendas brasileiras cresceu 33,3% menos do que a média mundial, ao passo que, a produção de carne bovina brasileira cresceu 511%.
A aplicação de tecnologia é certamente o caminho para atingirmos não só a sustentabilidade ambiental, mas também a econômica.
Com o uso de tecnologias de amplo domínio prático-científico, podemos aumentar a produção, eficiência econômica e liberar áreas para agricultura sem a necessidade de desbravar novas áreas para produção.
Por exemplo, com uma taxa de lotação média de 1,8 U.A./hectare, que pode ser facilmente obtida com as técnicas já dominadas pelos pecuaristas, poder-se-ia dobrar o rebanho nacional ou liberar 86 milhões de hectares mantendo o rebanho estável.
Por fim, se existe conhecimento, vontade e determinação para a evolução no sentido de uma pecuária moderna, o que falta certamente é apoio oficial, através de políticas de incentivo, instrumentos de mercado, logística e financiamento a juros e prazos condizentes com atividade.
Alcides Torres, engenheiro agrônomo
Gustavo Adolpho Maranhão Aguiar, zootecnista
Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br
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