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Pecuária Brasileira e Gases de Efeito Estufa: o ABC da questão

Cíntia Maluf
Zootecnista, Mestranda na Área de Água e Solos na Feagri/Unicamp
cintia.maluf@feagri.unicamp.br
Roberto Rodrigues
Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, Presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e Professor do Depto. Economia Rural da Unesp/FCAV, foi ministro da Agricultura
rr.ceres@uol.com.br

Segundo cientistas do Painel Intergovernamental do Clima (IPCC), o efeito estufa consiste num processo natural, mas o aumento crescente da concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera tem provocado mudanças no clima do planeta. Estudos comprovaram que a temperatura global teve um aumento médio de 0,74°C no período de 1906 a 2005. Além deste “aquecimento global”, é notável o aumento da ocorrência de eventos extremos como excesso de chuvas ou secas prolongadas.

Aparentemente as atividades humanas passaram a ter maior contribuição na emissão dos gases de efeito estufa desde a Revolução Industrial, principalmente pelo uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural) e pela mudança de uso da terra. Este contexto justifica a demanda global para controlar e reduzir a emissão destes gasese para adaptar os sistemas produtivos a esta nova realidade climática.
No final deste ano será realizada pela ONU a 17º Conferência das Partes, também chamada COP17, na qual estarão reunidos representantes de 198 países para redefinir o compromisso de cada Nação no esforço de redução das emissões dos gases de efeito estufa. A partir do que for acordado nesta ocasião, o Brasil poderá passar a ter metas para reduzir sua emissão de gases, o que poderá afetar todos os setores produtivos, inclusive a agricultura e pecuária. 

A Pecuária Brasileira no contexto das Mudanças Climáticas

Há alguns anos o setor pecuário tem sido apontado como um dos vilões do processo de aquecimento global, devido à emissão de metano (CH4), um dos gases de efeito estufa. Segundo os dados mais recentes do Ministério da Ciência e Tecnologia, o rebanho bovino foi responsável por 61% das emissões brasileiras de metano em 2005. De fato, os bovinos são ruminantes por natureza e, graças a isto, conseguem transformar capim e grãos em proteína animal, alimento nobre. Mas para que isto aconteça é produzido gás metano em uma etapa da digestão chamada fermentação entérica, que é eliminado posteriormente na eructação.

Vindo de encontro a esta problemática, pesquisadores têm se empenhado para encontrar formas de reduzir a emissão de gás metano na digestão animal e também para compensá-la seqüestrando carbono atmosférico ao longo do processo de produção de carne, leite e seus derivados. Um resultado positivo deste esforço é a comprovação de que pastagens bem manejadas podem vir a promover o sequestro de carbono nos solos brasileiros.

É sabido que o solo representa o maior reservatório de carbono dos ecossistemas terrestres. Nele, é possível estocar carbono capturado na fotossíntese das plantas ou emiti-lo na forma de gases de efeito estufa. A capacidade de sequestrar carbono no solo varia conforme o teor e a qualidade da matéria orgânica que entra no sistema, além das características físicas e químicas do solo e o clima do local, que influenciarão no processo de degradação desta matéria.

Resultados de pesquisas científicas compilados em relatórios de instituições renomadas como a FAO demonstram que um pasto bem formado e manejado corretamente pode seqüestrar carbono no solo quando sucede um pasto degradado ou um sistema agrícola convencional que utilize práticas que envolvem o revolvimento do solo. Na prática, as atividades que promovem o aumento do teor de carbono no solo sob uma pastagem são: implantação de pastos com o uso de sementes de boa qualidade e adequadas ao clima local, reforma de pastagem, manejo adequado do solo e do pasto, integração lavoura-pecuária ou lavoura-pecuária-floresta.Com isto, ganha-se também na retenção de água no solo, melhorando a adaptação do sistema aos períodos prolongados de seca, e na redução da emissão de gás metano à medida que um pasto bem manejado contribui para o aumento do ganho de peso do animal quando comparado às áreas degradadas, reduzindo a idade de abate do rebanho.

Tendo em vista que cerca de 170 milhões de hectares estão ocupados por pastagens no Brasil, com o sequestro de carbono nos solos o setor pecuário nacional possui capacidade ímpar para reduzir o balanço de gases de efeito estufa, ou a pegada de carbono, no processo da produção da carne, do leite e de todos seus derivados.

Política Agrícola e Mudanças Climáticas: Programa ABC


Como se vê, até o momento não há grandes novidades tecnológicas para a promoção do sequestro de carbono nos solos pastejados, mas sim o uso de práticas conhecidas, usualmente preconizadas para promover o aumento da produtividade.

A fim de incentivar o sequestro de carbono nas atividades agropecuárias e, consequentemente, promover boas práticas agrícolas, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento lançou no ano passado o Programa ABC, “Programa Agricultura de Baixo Carbono”. Por meio dele, o governo brasileiro disponibiliza R$ 3,15 bilhões em crédito a pecuaristas e agricultores para a safra de 2011/2012, com taxas de juros e carência consideradas atrativas pelo mercado.

As atividades financiáveis no Programa ABC são: recuperação de pastagens degradadas, correção e adubação de solos, implantação e ampliação de sistemas de integração lavoura-pecuária-florestas, implantação e manutenção de florestas comerciais, implantação de agricultura orgânica, recomposição de áreas de preservação permanente ou de reserva legal e outras práticas que envolvem produção sustentável e culminam na redução da emissão de gases de efeito estufa.

Ao criar o Programa ABC, o governo brasileiro demonstra sua preocupação ambiental acerca das mudanças climáticas, mas também reage positivamente às demandas internacionais para a promoção de sistemas produtivos mais sustentáveis. Sabe-se que mais barreiras às exportações da carne poderão vir lastreadas nos assuntos referentes ao meio ambiente, ameaçando a economia do setor pecuário. Este tipo de barreira não tarifária é usada muitas vezes como forma de controlar preços internacionais, limitando a atuação da pecuária brasileira, cuja competitividade é inigualável mundo afora.

Finalmente, independente do sucesso das negociações brasileiras na COP17, o fato é que a redução da emissão de gases de efeito estufa apoiada em boas práticas agrícolas, especialmente no manejo conservacionista do solo e das pastagens, é um assunto que envolve a aplicação de tecnologias conhecidas pelo produtor rural. Portanto, a idéia errônea de que a pecuária anda na contramão da sustentabilidade é um paradigma que deve ser quebrado com ações práticas. Estamos vivendo um tempo de mudanças de paradigmas e o setor pecuário brasileiro pode aproveitar este momento para demonstrar sua maturidade.

 



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