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Entrevista: Yula Cristina Gomes Cadette

A agrônoma paulista Yula Cristina Gomes Cadette, 42 anos, é uma mulher de talhe delicado, mãos finas e sorriso doce. Apenas a fala decidida, rápida, indica sua intensa rotina de trabalho, como gestora de quatro fazendas pertencentes ao pai, José Gomes Cadette, presidente da Granol, uma dos maiores esmagadoras de soja e produtoras de biodiesel do País. Depois de se formar na Esalq-Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Yula passou algum tempo na Austrália, estagiou por dois meses em uma consultoria e, aos 22 anos, passou a cuidar das fazendas da família, começando por duas propriedades: uma leiteira, de 80 hectares, e outra agrícola, de 50 hectares, ambas no interior de São Paulo. “Meu pai foi me transferindo responsabilidades aos pouquinhos”, conta.
 Alguns anos depois, ela assumiu uma propriedade maior, destinada ao plantio de soja em Goiás, e, no começo dos anos 2000, encarou seu maior desafio profissional: fazer integração lavoura-pecuária-floresta na Fazenda Modelo II, localizada em Ribas do Rio Pardo, MS, cujos solos de areia quartzosa eram considerados impróprios para a agricultura. A fazenda de 7.600 hectares (verdadeiro oásis em meio a um mar de pastagens degradadas) tornou-se referência em tecnologia. Seu dia de campo, sempre no mês de fevereiro, atrai mais de 300 pessoas, que enfrentam 100 km de estrada barrenta para ver de perto os resultados de 10 anos de contínua experimentação, marca registrada do Grupo Granol. Nesta entrevista, Yula relata a trajetória da Modelo II, cujo sucesso atribui, em grande parte, à persistência do pai.

Entrevista concedida a Maristela Franco

Revista JCM - Você é uma mulher de origem urbana, porque escolheu fazer agronomia?
Meu pai sempre teve fazenda, sempre gostei do campo. Mas não foi uma decisão segura. Prestei vestibular ao mesmo tempo para fonoaudiologia e agronomia. Passei nos dois cursos, mas acabei escolhendo agronomia; alguma coisa me puxava pra isso. Quando me formei, em 1994, passei seis meses na Austrália, depois voltei e trabalhei como estagiária, durante dois meses, em São Paulo, com o Sílvio Lazzarini. Ele foi responsável pelo meu primeiro e único salário, porque foi a única vez que trabalhei para terceiros. Sai do estágio e fui cuidar de duas fazendas pequenas do meu pai, no Estado de São Paulo. Na época, era uma tarefa até grande para meu grau de conhecimento, para minha inexperiência profissional. Meu pai sabia o que estava fazendo. Eu nunca tinha feito uma cotação, não conhecia os problemas de um trator, não sabia lidar com os funcionários. Tinha de começar do zero, a gente sai muito cru da faculdade.

Revista JCM - O que aconteceu depois?
 Meu pai começou a me levar para a fazenda de Silvânia, em Goiás. Eu acompanhava o plantio, olhava o gado. Na época, ainda tinha pecuária nessa propriedade, agora é só lavoura. Fui assumindo a administração devagar. Em 2001, quando nasceu minha filha, me mudei para Goiânia, porque queria diminuir a distância entre minha casa e o trabalho na fazenda. Gosto do interior. Gosto de ver uma lavoura de soja, de milho crescendo. Agora sei que escolhi a profissão certa, embora não seja fácil fazer tudo isso e ser mãe.

Revista JCM - Como é seu estilo de gestão?
Acho que é mais controlador, organizado. Gosto de trabalhar com números nas mãos, mas sempre tenho consultores e técnicos me auxiliando em áreas-chave. Contratei uma empresa de contabilidade, por exemplo, que montou todo o controle de estoques da Modelo II. Imagine ter problemas com peças na época do plantio quando se está a 100 km de estrada de terra da cidade. Os itens são todos codificados e registrados no computador. Essa empresa de contabilidade também planeja nossos orçamentos futuros, por setores; diz onde devemos focar nossos recursos. Antes não tínhamos noção de custos administrativos, agora temos. Descobrimos que é preciso ter um quadro de funcionários mais enxuto, porém qualificado e motivado. Por isso, montamos uma estrutura completa na fazenda visando ao bem-estar dos nos 35 a 40 funcionários fixos. Temos cantina e uma escola para 70 crianças, da fazenda e da vizinhança.

Revista JCM - Quando seu pai comprou essa fazenda no Mato Grosso do Sul, em meados da década de 70, já tinha algum projeto em mente? Como pensava explorá-la?
Ele e o sócio compraram as terras, em 1980, como investimento patrimonial. Simplesmente gostaram da região. Desmataram parte dos 7.600 hectares da propriedade para garantir sua ocupação, plantaram capim e começaram a fazer pecuária extensiva. Iam lá esporadicamente, para pescar e caçar perdizes, capivaras, antas. Engraçado é que, hoje, meu pai abomina as caçadas, tornou-se ecologicamente correto. Para passarmos férias na fazenda, ele construiu uma sede boa lá, com piscina, para dar conforto à família. As visitas ficaram mais frequentes e ele logo constatou que a propriedade rendia pouco para o capital investido. A lotação dos pastos era baixa. Todo mundo lhe falava que as terras pobres da região não serviam pra nada. Em 1999, cinco anos depois que me formei em agronomia, comecei a participar mais ativamente dos assuntos da fazenda, levantando os índices reprodutivos do rebanho, porque bezerro morria e ninguém ficava sabendo. Fizemos alguns ajustes no manejo, mas o sistema ainda era extensivo, de baixa lucratividade. Em 2001, apesar do apego que tinha à propriedade, meu pai decidiu colocá-la à venda.
 
Revista JCM - É verdade que uma compradora olhou a fazenda e disse que, para ela, não servia?
É verdade. Um corretor levou essa senhora para sobrevoar a área, começou a enfatizar muito as benfeitorias, a sede, o curral grande. Ela respondeu que sede não tinha importância e que o restante da fazenda, pelo que vira do alto, não lhe interessava. Meu pai soube dessa história e ficou louco. Repetia: “A mulher nem quis descer do avião pra ver a fazenda direito; preciso fazer alguma coisa urgentemente”. Acho que a história dessa compradora mexeu com ele, gerou um forte desejo de mudança.

Revista JCM - Como ocorreu essa mudança?
Durante um almoço em Campo Grande, meu pai conheceu o Dirceu Broch, da Fundação MS, que já trabalhava com integração lavoura-pecuária. Ele se encantou pelo sistema e decidiu introduzi-lo na fazenda. Meu pai é muito otimista nato, gosta de experimentar coisas novas, cultura que trouxe da indústria para o campo. Chamou a mim e ao Kazuo (Adilson Kazuo Kozama), agrônomo da empresa, e disse: “A integração é uma forma de investir nessa terra que afirmam não valer nada. Vocês são agrônomos, têm de experimentar a tecnologia. Não sei como, mas vamos fazer isso dar certo aqui; vamos ser pioneiros na região”.

Revista JCM - Por que ele se encantou tanto pelo sistema?
Porque a porta de entrada da integração é a soja, cultura com a qual ele mexia há 40 anos e cuja comercialização dominava. Isso já era meio caminho andado. Com a integração, ele poderia reformar as pastagens e elevar a produtividade da fazenda. Na época, nem mesmo os técnicos da Fundação MS sabiam direito como plantar em solos de areia quartzosa, com apenas 8 a 12% de argila. Os projetos de integração que haviam conduzido até então ficavam em terras mais férteis, dos municípios de Maracaju e Dourados. Mas isso não intimidou meu pai. Ele decidiu atacar os dois fatores que limitavam a agricultura na região de uma vez só: a terra fraca e o clima adverso, caracterizado por fortes veranicos. Instalou um pivô na fazenda já na segunda safra. Parte da tecnologia hoje disponível para plantio no areião sul-mato-grossense foi desenvolvida na Modelo II. Começamos com a “conta que paga o adubo”.

Revista JCM - Como assim? O que é a conta que paga o adubo?
O Dirceu disse ao meu pai que, se colhêssemos o suficiente para pagar o adubo, que representa 30%-40% dos custos de plantio, já estaria bom, pois nosso principal ganho seria o pasto reformado, que possibilitaria aumentar a lotação por hectare. Ou seja, se os grãos pagassem o custo de implantação da lavoura, sairíamos no lucro. O raciocínio era válido, mas não tínhamos ideia das dificuldades que enfrentaríamos.

Revista JCM - O que foi mais difícil no começo?
Puxar calcário e depois escoar a produção em 100 km de estrada de terra. Aquele “meião” do Mato Grosso do Sul era um grande vazio, a região menos coberta por malha rodoviária do Estado. Não havia revenda de defensivos perto da fazenda, tivemos de trazer tudo de fora. Nossos pastos nunca tinham visto calcário. Começamos do zero. Foi um investimento inicial grande, inclusive em mão de obra, que tivemos de buscar, treinar. Também descobrimos que era muito complicado plantar na areia quartzosa, pois os sulcos abrem demais, deixando a semente a descoberto. Foi preciso adaptar um kit à plantadeira. Muitos desses detalhes ninguém sabia. Os técnicos da Fundação MS nos recomendaram preparar a área um ano antes: gradear, incorporar calcário, jogar fósforo e semente de capim visando a elevar a produção de massa verde, que seria dessecada, no ano seguinte, para plantio direto da lavoura. Não conseguimos fazer isso direito; semeamos o capim tarde e faltou palha para o plantio direto. A areia quartzosa é muito suscetível à erosão, que apareceu já no segundo ano, porque a palha não ficara bem formada e havíamos escolhido uma área com declive para plantio.

Revista JCM - O que os motivou a continuar?
Logo a lavoura começou a pagar o adubo e deixar lucro. Depois, vimos os pastos reformados pelo sistema atingirem lotação de 2 UAs/ha, enquanto os degradados mal sustentavam 0,7 UA/ha. A lotação mais que dobrou. Começou a mudar o visual da fazenda. Também descobrimos que não bastava adubar os pastos convencionais, porque eles apresentavam uma capacidade de suporte inicial alta, que depois não se sustentava. Já os formados após dois/três anos de soja, respondiam muito melhor à adubação e produziam bem por mais tempo, devido à menor presença de plantas daninhas e às melhores condições microbiológicas do solo. Então, passamos a adubar somente os pastos provenientes da integração. Com ajuda da Fundação MS, também melhoramos nossas práticas agrícolas. Aprendemos a regular corretamente a plantadeira, a colocar um pouco mais de semente por metro linear, por causa do problema da escaldadura...

Revista JCM - O que é a escaldadura?
Quando não se tem boa cobertura de palha, a temperatura da areia fica tão alta que a planta germina, mas não vinga. Em novembro/dezembro, o calor no solo chega a atingir 50 ºC, provocando um anelamento, uma queimadura em volta do colo da planta, que não resiste e morre. É um problema específico desse tipo de solo, quando não tem palha. Semeávamos visando a obtenção de 15 plantas por metro linear e morriam 10. Também tivemos problemas com outras pragas, como o nematóide Pratylenchus, tão comentado hoje, e que já enfrentamos quase 10 anos atrás. No segundo ou terceiro ano de cultivo, plantamos milho e colhemos apenas 30 sacos por hectare, porque o Pratylenchus, que convive bem com a braquiária, atacou a raiz das plantas e acabou com a lavoura. Outra praga que nos trouxe problemas foi o percevejo castanho. Nesses 10 anos de integração, tivemos produções dentro ou acima das expectativas e outras não, mas, posso dizer que conseguimos melhorar um pouquinho a produtividade a cada ano, em função da experiência que acumulamos.

Revista JCM - Qual é  produção por hectare da fazenda hoje?
Temos áreas que produzem 65-67 sacas de soja por hectare, em sequeiro, e outras que dão 35-39 sacas, porque são mais novas, não têm o solo totalmente corrigido ou foram atingidas pelo veranico, que pega a soja na fase de florescimento e enchimento dos grãos, causando grande quebra. Milho, somente plantávamos irrigado, mas, neste ano especificamente, estamos testando seu cultivo em safrinha. Sempre estamos experimentando uma tecnologia nova, um novo nível de adubação, uma nova variedade. Meu pai sempre insistiu muito nisso – já que estamos progredindo, temos de continuar pioneiros no desenvolvimento de tecnologias para as nossas condições.

Revista JCM - E o maquinário, compraram tudo?
Compramos uma plantadeira, um pulverizador e levamos uma colheitadeira de Goiás para lá. Quando já estávamos com 500-700 hectares plantados, investimos em outras máquinas, como uma distribuidora de calcário e adubo em taxas variáveis. Realmente, fizemos um investimento em maquinário importante, mas não dava pra terceirizar, primeiro porque não havia prestadores de serviço na região, segundo porque não gostamos dessa alternativa. Já tivemos experiências com terceirização e sofremos muito. A máquina chegou toda quebrada e na data diferente do combinado, o operador não conseguiu entender o que se queria dele...

Revista JCM - Como foi a experiência de vocês com irrigação?
No início, cometemos alguns erros. Compramos um pivô muito grande, para 150 hectares, difícil de trabalhar, e o instalamos numa área inadequada, com declive, suscetível à erosão. Tivemos de aprender com nossos erros, mas irrigar foi uma decisão acertada, pois nos permitiu colher 2,5 safras por ano e diversificar fontes de renda. Os pivôs ficam parados apenas dois/três meses por ano, entre uma cultura e outra. Hoje, no verão, plantamos soja nas áreas de sequeiro e milho ou sementes nos pivôs, dependendo da rotação de culturas. Pelo menos um pivô é destinado à engorda de bovinos, mas podem ser mais, se o mercado de carne estiver atrativo. A integração dá maior flexibilidade, permite ao produtor escolher, dentre várias fontes de renda, em qual vale a pena investir mais, em determinado ano.

Revista JCM - Já tem mais pivôs na região?
A demanda por irrigação aumentou tremendamente no Mato Grosso do Sul, em função dos juros mais baixos para financiamento agrícola, mas ali, perto de nós, não tem mais ninguém com pivô. Nos dias de campo que realizamos, conseguimos convencer alguns a entrar na integração, na pecuária-floresta, mas não a comprar pivô. Trata-se de um investimento é de R$ 5.000 a R$ 7.000 por hectare e isso assusta um pouco. Infelizmente, porque, como tivemos uma elevação muito grande no valor da terra nos últimos anos, é preciso dobrar ou triplicar a produção na mesma área. Você já não consegue mais comprar facilmente a terra do vizinho do lado, que já custa R$ 8.000- 12.000 o hectare. É mais fácil investir R$ 5.000/ha na irrigação. Vale à pena. Trabalhando direitinho, o pivô se paga em no máximo cinco anos. Algumas culturas, como o feijão, às vezes permite pagar esse investimento em um ano ou dois.
Já temos 450 hectares irrigados por seis pivôs, mas queremos chegar a 950 ha de área irrigada até o final do ano, instalando na fazenda mais seis equipamentos. Para viabilizar esse projeto, seremos novamente pioneiros, ao puxar energia da nova subestação da Usina de Mimoso até a fazenda. Água não é problema. Uma empresa especializada fez um estudo hidrológico para determinar quantos pivôs poderíamos instalar e quantos milímetros de água jogar na lavoura por ano. Foi tudo muito bem calculado. Você tem de saber exatamente onde colocar o pivô para que os custos de implantação e produção sejam menores. O próximo passo é mudar os pivôs atualmente movidos a diesel para elétricos.

Revista JCM - Como o eucalipto entrou na Modelo II?
Nós já vínhamos ocupando as terras mais planas e estrategicamente localizadas com lavoura e acabaram sobrando áreas marginais, sem aptidão para agricultura, que coincidentemente eram os pastos mais degradados da propriedade, porque meu pai e o sócio abriram a fazenda pelas bordas, próximas aos rios, que são as terras mais fracas e inclinadas. A solução foi ocupá-las com eucalipto, uma cultura versátil que, no areião do Mato Grosso do Sul, apresenta altas produtividades (45 m3 por hectare/ano). De novo, passamos por longo aprendizado. Testamos de tudo: plantio normal, plantio consorciado com lavoura e depois com boi. Atualmente, temos 1.200 ha ocupados com eucalipto. O consultor que nos orienta nessa área está fazendo uma projeção para nossas florestas nos próximos 10 anos e diz que ela tem múltiplos usos: uma parte pode virar toras, outra lenha, outra embalagens; cada pedacinho da árvore serve para uma coisa. Já fizemos o raleio ou desbaste em alguns talhões mais antigos e, todo ano, plantamos um pouquinho mais.

Revista JCM - A fazenda tem passivo ambiental?
Não, deixamos uma faixa de mata de 100 a 200 metros na beira dos rios e nascentes, muito maior do que os 30 metros exigidos pela legislação. Pedimos (na época, era possível), que parte dessa área fosse integrada à reserva legal. Inclusive, ainda temos áreas remanescentes para abrir se quisermos. Hoje, temos essa mata ciliar grande, depois o eucalipto e depois as áreas de integração. Ficou muito bonito.

Revista JCM - E o que mudou no projeto pecuário?
Mudou tudo. Saímos da pecuária de ciclo completo para a recria/engorda; da criação extensiva para a intensiva com confinamento. Gradativamente, fomos reformando os pastos (faltam apenas 500 hectares) e ajustando o rebanho, que, em determinados momentos diminuiu, mas depois voltou a crescer, com a intensificação do sistema. Temos pastos rotacionados que recebem apenas 50 pontos de N (nitrogênio) e outros que recebem 100. Para continuar intensificando, entramos no confinamento há três anos. Quando você tem 1.200 garrotes em um pivô de 90 hectares, onde vai coloca-los no inverno? O confinamento foi quase obrigatório. Começamos com 2.000 cabeças, mas, neste ano, já vamos fechar 12.000-15.000. O gado é todo adquirido de terceiros, porque já não fazemos cria. Para evitar problemas de abastecimento, estamos negociando parcerias mais estruturadas, com contrato e cláusulas pré-acordadas. Os animais, adquiridos com 10-15 meses, são recriados em outras duas fazendas que temos no Mato Grosso do Sul e em pastos irrigados. Quando atingem cerca de 350 kg, vão para o confinamento. As pastagens das fazendas de recria já estão bem divididas e são rotacionadas, mas não adubadas. Uma delas, inclusive, vai entrar no sistema de integração a partir de 2014.

Revista JCM - Vocês estão produzindo alimentos para os animais confinados?
Sim. Produzimos na fazenda todos os volumosos (silagens de milho, capim, milheto) e uma parte do milho-grão, que é colhido úmido para ensilagem. As fontes proteicas (farelo de amendoim, torta de algodão, farelo de soja) vêm de fora. Usamos também farelo de crambe, um grão com alto teor de óleo trazido pela Fundação MS da Argentina. Plantamos essa cultura na Modelo II, vendemos os grãos para esmagamento na Granol e a indústria nos entrega o farelo. Para chegar até a fazenda, os produtos viajam por 100 km de terra, mas, agora que dizem que a rodovia MS 040 vai sair em 2014 (há anos escuto isso), as coisas vão ficar mais fáceis. Por sorte, a rodovia vai passar dentro da fazenda; inclusive, já estiveram lá demarcando o traçado da estrada.

Revista JCM - Você esperava que a fazenda chegasse nesse nível?
Não, e o mérito é principalmente do meu pai além de todos os nossos colaboradores. Ele é muito otimista, muito perseverante. Não desiste fácil, quer sempre testar novas coisas. Eu sou mais pé no chão, mas gosto do entusiasmo dele, porque, inclusive, ele investiu em mim também. Aos 72 anos, continua participando de decisões estratégicas. Começou do nada, como office boy na Johnson & Johnson. Com 19-20 anos já  montou a Granol, que à época se dedicava à exportação de grãos. Aos 22 anos, já comprou a primeira fábrica de óleo e tornou-se presidente da firma. É um empreendedor nato. Talvez seja por isso que ele acredite tanto nas coisas.

Revista JCM - O que aprendeu nestes 10 anos de integração?
Primeiro: é preciso crescer devagar. Segundo: não se pode desanimar, pois sempre surgirão situações difíceis, anos ruins, a agricultura é assim, ser agricultor é assim. Terceiro: o sistema de integração é sensacional. Esses 10 anos de experiência nos mostraram que ter várias atividades integradas é a grande sacada. Não é por acaso que todo mundo agora só fala em integração. Ela permite melhorar a produtividade, o uso da mão de obra e das máquinas, a dinâmica produtiva, o faturamento da fazenda. A integração é uma tendência irreversível e altamente sustentável. Nem todos os países podem adotá-la. O Brasil pode: tem clima, solo, gente, vontade, produtor esforçado, lutador. Não é qualquer país que enfrenta as dificuldades de logística que nós enfrentamos. Faltam políticas públicas, políticas agrárias. O Mato Grosso agora vai colher uma safra enorme de milho, cadê a logística? O preço já despencou no Estado. O preço do milho varia às vezes 100% dentro do País. Não é fácil ser agricultor ou pecuarista com as condições tributárias que temos no Brasil. Hoje, fazer apenas pecuária também é difícil, por causa da baixa rentabilidade. Por isso a gente vê tanto arrendamento pra cana, eucalipto. Esse pecuarista tende a desaparecer.

Revista JCM - Quais foram as experiências mais prazerosas?
Colher 65 sacos de soja naquela areia quartzosa e, ao falar isso, não estar mentindo nem num tiquinho, é sensacional (risos). Conseguimos chegar nessa produtividade depois de sete/oito anos, mas também as tecnologias avançaram junto conosco, as máquinas, as variedades de soja, o milho transgênico, que mudou completamente a produtividade dessa cultura no Brasil. Não foi um mérito somente nosso. O que a gente fez foi usar a tecnologia da melhor forma possível. Acreditamos e investimos. Outro grande prazer foi ver meu pai satisfeito, falando: “Mudamos a fazenda”. Agora aquela compradora, que não quis nem descer do avião, pagaria alguns reais a mais por ela; mas nós também não venderíamos (risos).

Revista JCM - Como surgiu a ideia de fazer um dia de campo na fazenda?
Queríamos mostrar que a integração dava certo na região. Fizemos a quarta edição em fevereiro deste ano, mas todos eles foram um sucesso, reunindo entre 400 e 500 pessoas, o que é muita gente para um evento de fazenda, na distância que estamos do asfalto. Acho que as pessoas vão justamente porque são muito curiosas, querem saber, querem ver o que a região pode produzir. E a ideia era essa mesmo, mostrar para nossos vizinhos que é possível plantar soja lá. Tem gente que chama a Modelo II de oásis, porque você passa por um monte de pasto degradado e lá, no meio disso, tem uma soja linda, um milho maravilhoso, um boi numa ótima condição corporal. Estão surgindo outros oásis, de soja e eucalipto, o que nos deixa muito felizes. Nosso intuito é divulgar tecnologias, para que a região cresça junto conosco.



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