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O Bom Momento da Pecuária

Moacyr Corsi (*)

Há tempo esperava-se por esse momento auspicioso da pecuária. Como li recentemente em um veículo escrito da mídia “até o carrapato boiadeiro já sabia que iria faltar boi para abate”.
Divulgou-se que o abate de matrizes estava elevado desde 2003 e parece que ainda continua acima do normal, como indica o quadro 1.
As justificativas para o abate desenfreado de fêmeas, quando o preço do bezerro está bem vantajoso, seriam:

  • Descapitalização do pecuarista;
  • Falta de alimento nas pastagens;
  • Expansão da agricultura que também desfruta de bons momentos;
  • Custos elevados dos insumos;
  • Baixa produtividade da pecuária, etc

A baixa produtividade da pecuária brasileira não permite, mesmo com os nossos preços de @ colados aos dos Estados Unidos, retorno satisfatório da atividade. Qualquer alteração nos preços de insumos (sal mineral, arame, mão de obra, etc) em sistemas com baixa produtividade proporciona significativos reflexos negativos na economia da produção, o que impede ou dificulta a adoção do emprego de insumos na atividade. Desse modo, o ciclo vicioso da baixa produtividade justificada pelo uso insuficiente de insumos impede que o setor se desenvolva.

À primeira vista parece que eu estaria reclamando por linhas de crédito especiais para a pecuária. Acredito que mais importante seria mudar a atitude do produtor em relação ao emprego de tecnologias capazes de elevar a produtividade das atuais 5@/ha para cerca de 30 a 40@/ha/ano, taxas de lotação de 0,8 para, pelo menos, 3 UA/ha; bezerros produzidos/ha de 0,2 para 1 ou 1,5; ganho de peso médio ao longo do ano de 0,4 para 0,580kg/cab/dia; peso na desmama com 7 meses para machos de 160kg para 190 a 200kg; taxa de desmame de 50% para 85%.

Trabalho de Barros (2004) indica que a agricultura brasileira sofreu em 13 anos (quadros 2 e 3) reduções no poder de troca indicando que, para a compra de insumos, era necessária maior quantidade de cereais. Entretanto, nesse período de tempo a produtividade agrícola aumentou em 63%, o que possibilitou aos agricultores aumento no poder de compra em 67%, traduzindo em enriquecimento desse ramo do agronegócio. Por outro lado, o pecuarista perdeu mais no poder de troca que a agricultura e não foi capaz de recuperar o poder de compra porque, em 13 anos, a produtividade pecuária aumentou somente 17% comparado aos 67% da agricultura.

Certamente o leitor pensaria: “como mudar o nível de produtividade sem capital para investir?”

O sistema de produção intensivo em pastagens da ESALQ demonstrou que isso é possível se houver mudança na atitude do pecuarista em relação ao emprego de tecnologias. Há cerca de 36 anos o Departamento de Zootecnia dispunha de 70ha (atualmente são 110ha) para exploração da atividade leiteira. Produtividade baixa, custos elevados de produção, desânimo da equipe, reprodução animal inadequada, falta de seleção e ritmo insatisfatório de crescimento dos animais refletiam baixos índices zootécnicos do sistema, que representava a média das propriedades rurais que exploravam a produção leiteira.

Sendo a área de 70ha o fator mais limitante à produção adotou-se a filosofia de adubar e manejar as pastagens como meio de intensificar a produtividade. A falta de recursos econômicos, entretanto, nos obrigou a adequar o orçamento à área a ser trabalhada, isto é, 1,4ha de pasto a ser explorado intensivamente através de divisões com cerca elétrica e manejo rotacionado sobre o capim elefante. Essa área de 1,4ha representaria 2% do total disponível para exploração pecuária.

Aparentemente essa área tão pequena não poderia provocar alterações econômicas ou no espírito da equipe de trabalho, mas os resultados, embora esperados, surpreenderam os mais otimistas e sedimentaram a convicção de que a pecuária explorada em níveis tecnológicos semelhantes à agricultura pode ser tão rentável, ou mais, se considerarmos os baixos riscos de produção da pecuária.

As mudanças no sistema de produção ocorreram através do aumento da taxa de lotação animal das pastagens exploradas intensivamente. Os 1,4ha suportaram, inicialmente, 5 UA/ha/ano ou cerca de 10cab que ocupariam, no sistema convencional, 14,3ha representando 20% da área de 70ha. Essa melhora na produção e manejo da pastagem refletiu no incremento da produção de leite e, principalmente despertou o interesse da equipe pela exploração do potencial produtivo da área. A gleba reservada de 14,3ha foi manejada no sentido de recuperar as pastagens degradadas, permitindo aumentos gradativos na taxa de lotação e adequação de novas glebas à correção da fertilidade do solo. Os resultados em cerca de 10 anos apareceram no aumento do rebanho de 50 para 120 animais de raças leiteiras, além de aproximadamente 400cab de bovinos de corte e 1000 ovinos. Naquele sistema de produção as vacas leiteiras recebiam concentrados como suplementos durante o “verão” e concentrado + silagem durante o “inverno”, enquanto parte do rebanho de corte era confinado durante o “inverno”. A produção diária de leite passou de 150 para 960 litros.

O trabalho de Barros (2004) demonstra que o pecuarista não tem a mesma disposição em aceitar e empregar tecnologias no sistema de produção quando comparado aos agricultores. Nesse caso, muitos considerarão a atividade pecuária como secundária aos seus interesses econômicos e/ou desistirão da atividade. Por outro lado, os que adotaram tecnologias ao nível da atividade agrícola perceberam o potencial produtivo da pecuária e ampliaram investimentos e conhecimentos para desfrutar do bom momento da atividade. Em resumo, comprova-se o que se conhece sobre adoção de tecnologia: o grupo inovador emprega tecnologia, aumenta a produtividade, reduz o custo de produção e tem retorno econômico na atividade, enquanto que o segundo grupo, denominado de ‘seguidores’, opta por esperar os resultados do primeiro grupo para decidir sobre a adoção tecnológica. Quando decidem o volume produzido se eleva, os preços decrescem e o resultado econômico não é satisfatório. Como resultado, este segundo grupo não obtém resultados econômicos satisfatórios e se torna mais resistente à adoção de tecnologias.

Espera-se que, ao final desse círculo auspicioso da pecuária – quando os preços retornarem aos valores históricos – os pecuaristas do grupo de seguidores, que representam a maioria, não se sintam frustrados pela reduzida margem de lucro da atividade por terem adotado tecnologias tardiamente.

A ESALQ precisou de cerca de 10 anos para estabelecer níveis de produtividade elevados e sedimentar o sistema de produção. Esse período longo de tempo foi reflexo da reduzida disponibilidade de recursos financeiros. Empresários que desfrutam do bom momento da pecuária investiram na ampliação do rebanho. Utilizaram técnicas como arrendamento de pastagens, parcerias com confinamentos, além de se preocuparem com o manejo das pastagens, correção e fertilidade do solo sabendo que a margem de lucro da pecuária  retornará aos níveis normais e a elevada produtividade se mostrará mais necessária.

(*) Prof. Titular do depto. De Zootecnia, ESALQ/USP.



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